Ouvia falar sempre coisas boas de Rishikesh, cidade localizada no norte da Índia, como sendo alegre e meio santa. Fui parar lá em circunstâncias muito estranhas, no mínimo. Estou relatando isto depois de ter voltado, com a intenção de descrever um pouco sobre os momentos e significados das fotografias que fiz lá Cheguei primeiro em Nova Deli pois queria me acostumar e descobrir a melhor forma de ir para o norte em direção à Rishikesh. Fiquei dois dias, ocasião em que paguei 5 vezes o valor que um indiano pagaria por um chapéu. Levei um tombo atravessando uma avenida e machuquei minha mão e joelho. Bom… fui para o hotel, descansei e mais tarde fui até a estação de trem, que não ficava longe dali, para comprar a passagem para uma cidade perto de Rishikesh, pois de lá era preciso viajar uns 30 km de taxi, ônibus, van ou ricktcha para chegar ao destino. Tinha “buckado” um hotel, porém sem a mínima ideia de como chegar lá. O trem saiu de Nova Deli às oito horas da manhã e chegamos em Haridwar por volta das 12 horas. Na saída do trem conversando com um inglês convidamos mais duas mulheres para dividir um rickcha grande para nos levar até Rishikesh. O que seria um trecho de 30 minutos, levou mais de 2 horas. Pudemos conversar bastante sobre as origens de cada um e decidimos ficar do lado de cá do rio. Como só pessoas, bicicletas e motocicletas podem atravessar a ponte Ram Jhula, sobre o rio Ganges, caminhamos para o outro lado com nossas bagagens, só que eu não encontrava meu hotel. Era 4 horas da tarde e eu estava sentado numa calçada perguntando ainda aonde ficava meu hotel. Mostrava a foto que imprimi com o endereço. Veio um jovem oferecendo me levar de moto pois o hotel era meio longe dali. Subi na moto e minha mala foi entre suas pernas na frente. Quando cheguei ao hotel, estava exausto. Sentei na beira da escada bem em frente a porta do hotel. Acertei as contas e fui para quarto dormir. No dia seguinte vi um anúncio sobre aulas de yoga na recepção do hotel. Comecei a frequentar as aulas e me senti muito bem. Falei com o professor sobre minha situação de saúde, diabetes, etc e se ele conhecia um médico ayuvédrico, pois queria trocar o medicamento que tinha levado do Brasil. Ele me levou para o outro lado do rio, na parte mais comercial e maior de Rishikesh. Lá o Dr. Me deu comprimidos de DiaNow para diabetes e disse que em quinze dias eu poderia parar com as injeções de insulina que tomava 4 vezes por dia. Como tinha o material para colher sangue e medir a glicose, em uma semana estava com o diabetes normalizado. Parei com a insulina e com os outros remédios que tinha levado do Brasil. Comotinha muito barulho em volta do hotel decidi procurar um lugar mais calmo. Encontrei no terceiro andar de um prédiozinho de frente para o rio Ganges. Ali passei três semanas e fazia aulas de yoga perto de onde estava. Nessa época fui descobrindo a cidade-vila, com suas ruas estreitas, muita gente andando ou em procissão junto com vacas, macacos, carros (só cabe um na rua) e motos buzinando o tempo todo. Pela vizinhança havia o Bhudda Café e outros restaurantes, todos veganos, pois em Rishikesh não existe carne em restaurantes ou nas casas. Aos poucos também comecei a sair com minha máquina fotográfica. Assim descobri rostos barbudos, sorridentes e receptivos dos shadus andando pelas ruas. Os rituais do fogo em Pharmat Niketan junto à ponte “Ham jula” que acontece todas as noites. Recebia macacos que comiam restos de frutas, cascas de banana etc, na sacada do meu quarto. Descobri o ashram dos Beatles, com é chamado o local em que um dia eles compuseram “Let It Be”. Hoje está meio abandonado e com intervenções de vários artistas que lá prestam sua homenagem àquela época. Rishikesh é considerada a capital mundial da yoga. Existem mais de 300 escolas, centro de práticas e hotéis que oferecem cursos para formar professores. São caros, pois virou bom negócio depois da visita dos Beatles, e a cidade hoje recebe gente do mundo inteiro. Indianos, nepaleses, tibetano e chineses dominam o comércio local. São de Rishikesh alguns dos mestres do hinduísmo da yoga do budismo e outras organizações espirituais. A cidade está sempre lotada com gente das montanhas que descem para os templos, estrangeiros de tudo quanto é lugar e os indianos que vêm buscar conhecimento e viver nas encostas do Himalaia, na floresta onde se diz viver muitos mestres iluminados. Devido à esta mistura ou apesar dela, o silêncio é a busca de cada um. Em alguns rostos fotografados, os olhos falam muito. Tive bons momentos à beira do Rio Ganga, com seu lindo por do sol, os rituais, a meditação, a yoga ou banhos do fim de tarde. Quando tive que comprar um celular na Índia, optei por um que possui uma máquina fotográfica muito boa. Aproveitei bastante e depois trabalhei com fotos no computador. Mais uma vez nesta viagem ficou evidente meu interesse por rostos das pessoas. Em geral percebe-se alguma conexão lá. Decidi fazer um curso para professor de yoga. Escolhi um hotel no meio das montanhas, silencioso e com conforto ocidental (chuveiros, etc). Foram momentos de descobertas, mas também de sofrimentos que tiveram que ser trabalhados. Não sei se voltaria lá, porém sinto saudades de alguns lugares, algumas pessoas que me trataram muito bem nos três meses que passei lá. O curso durou um mês e eu voltei para o hotel de onde tinha saído para o curso. La continuei com aulas e sai muito para fotografar. No final de dezembro de 2017. quando estava para voltar ao Brasil, começou a esfriar muito. Assim me despedi de Rishikesh. No site há mais fotos de Rishikesh.