O sonho de ir ao Tibet
Good morning (bom dia), costumava dizer Khenpo Gawang ( monge budista do Tibet) onde quer que chegasse, a qualquer hora do dia. No início pensei que ele estivesse chamando nossa atenção para o estado de estar presente no momento. Mais tarde ele explicou que no idioma tibetano, para se dizer bom dia, boa tarde ou boa noite se usa uma mesma expressão, por isso ele prefere dizer bom dia (em inglês) para todo mundo a toda hora.
Conheci o mestre e professor budista Khenpo Gawang em Vermont, norte dos EUA, em 2010, quando fui a Karme Choling, um centro de meditação da organização Shambhala para participar de um seminário sobre a filosofia budista escrita por Mipham no século XIX. Durante o curso fui encarregado de levar o jantar para Khenpo todas as noites em sua suite. Na primeira vez, depois de lhe entregar a bandeja e lhe perguntar se desejava alguma coisa a mais, ele pediu que eu sentasse ao seu lado e começamos a conversar. Falamos um pouco sobre o jeito americano de ser, de encarar a vida. Vimos como era diferente do nosso (em seus valores essenciais) e num certo momento da conversa, ele mencionou que no ano seguinte, 2011, ele iria ao Tibet visitar sua família. Minha reação foi imediata. Posso ir junto?, perguntei. Sim, disse ele. Combinamos então de nos encontrar em Memphis, Tennessee, onde ele ensinava o budismo, em agosto próximo. Naquele momento, eu não tinha a mínima ideia de como aquilo poderia acontecer.
Na mesma semana, enquanto fotografava nas imediações da sede em Karme Choling, o jardineiro do centro me perguntou se eu conhecia Miksang, um estilo de fotografia, ou poderia se dizer, um olhar contemplativo (meditativo) sobre a natureza que nos envolve. Não sabia o que era e ele me explicou que Miksang significa “bom olho”, ou bom olhar (good eye, do tibetano para o inglês) e que havia cursos sobre o assunto e exposições nos centros Shambala. Também havia um mestre treinado por Chogyam (criador do conceito) morando em Boulder, Colorado, onde ministrava estes cursos. Fui na internet pesquisar e quando vi aquelas fotos, fiquei fortemente impressionado pela proposta e qualidade dos trabalhos ali expostos. Porém, a inscrição para cursos iniciava somente em junho de 2011.
Meus pensamentos, entre as meditações que realizava, eram sobre a possibilidade de levantar recursos para fazer os cursos em Boulder e em seguida ir para Memphis, onde Khenpo dirige um centro de meditação budista, para então poder viajar ao Tibet com ele. Embora esta viagem fosse um sonho de muitos anos, procurei não me apegar com essa ideia, tampouco me entusiasmar com as possibilidades que ali se apresentavam. Voltei ao Brasil no início de outubro de 2010.
A partir de então uma série de acontecimentos começaram a se desenrolar. Um processo que já durava quase quinze anos e estava no Superior Tribunal de Justiça foi acordado com a empresa processada que pagou quase o valor integral estabelecido no processo. Uma casa que estava à venda há mais de cinco anos, foi comprada por um advogado que pagou à vista o preço de mercado. Outras situações também se sucederam como se a própria vida estivesse se encarregando de mostrar os caminhos pelos quais eu poderia realizar aquele sonho. Até fevereiro de 2011 a questão financeira estaria resolvida. Foi quando um dia, no Skype, uma chamada de um tibetano, me perguntando como e onde eu estava surgiu na tela do computador. Perguntei quem era o tibetano e este me responde que era Khenpo. Não sei como ele apareceu na minha lista de contatos. Falamos sobre alguns assuntos e sobre a viagem também. Disse a ele que iria me inscrever no curso de fotografia Miksang, que se realizaria em junho em Boulder, e depois poderia ir a Memphis me encontrar com ele para viajarmos ao Tibet. Assim ficou combinado.